• Conheça nosso jeito de fazer contabilidade

    Lorem ipsum dolor sit amet, consectetur adipiscing elit. Vestibulum sit amet maximus nisl. Aliquam eu metus elit. Suspendisse euismod efficitur augue sit amet varius. Nam euismod consectetur dolor et pellentesque. Ut scelerisque auctor nisl ac lacinia. Sed dictum tincidunt nunc, et rhoncus elit

    Entenda como fazemos...

Notícia

Inadimplência e recorde de recuperações judiciais expõem a fragilidade das empresas

Quase 1 em cada 3 empresas está inadimplente no Brasil; especialistas apontam causas, alertas e caminhos para evitar o colapso

O Brasil vive uma escalada na inadimplência empresarial e nos pedidos de recuperação judicial, evidenciando uma crise que afeta principalmente os pequenos e médios empreendedores. Um levantamento da Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de São Paulo (FecomercioSP), com base em dados da Serasa Experian, mostra que mais de 7,2 milhões de empresas estão inadimplentes no país, o que representa 31,6% dos negócios ativos.

Desse total, 6,8 milhões são micro e pequenas empresas (MPEs), que acumulam 47,2 milhões de débitos em aberto, somando mais de R$ 141,6 bilhões. Mas o problema vai além, já que em no ano passado os pedidos de recuperação judicial aumentaram 61,8%, totalizando 2.273 solicitações — alcançando o maior número desde o início da série histórica, iniciada em 2006.

E a tendência se mantém em 2025, visto que com 162 pedidos em janeiro e 122 em fevereiro, novamente com predominância de MPEs. Entre os fatores que explicam esse cenário, estão os juros elevados, a inflação persistente e o acesso cada vez mais restrito ao crédito.

Fatores externos e internos

Com a taxa Selic em 14,75%, o custo do dinheiro aumentou, dificultando especialmente os pequenos negócios. Ao mesmo tempo, a inflação corrói o poder de compra dos consumidores e pressiona os custos operacionais. Como reflexo da inadimplência crescente, os bancos endurecem a concessão de crédito, alimentando um ciclo vicioso.

“Em geral, uma ênfase demasiada em faturamento, e não em margens, gera esse tipo de cenário”, explica Julian Tonioli, CEO da Auddas e investidor anjo. Ele frisa que a dificuldade de integrar operação e finanças é recorrente e, somada ao aumento da inadimplência dos próprios clientes, gera um efeito cascata.

Ezequiel Wilbert, CEO e sócio-fundador da Safegold, concorda que a raiz do problema está na falta de gestão profissional. “Em pequenas empresas, o essencial é, antes de tudo, separar a pessoa física da jurídica. A disciplina é mais importante do que o tamanho da empresa”, afirma.

Para o executivo, sem clareza sobre fluxo de caixa, margem de contribuição e o fenômeno do “overtrading” (crescimento sem capital de giro suficiente), o risco de déficit crônico é alto.

Impactos macroeconômicos

Sob o ponto de vista macroeconômico, André Alves de Lima Bueno, gerente de operações da Big Legal Tech Finch, aponta fatores estruturais. “O aumento exponencial dos pedidos de recuperação judicial se deve à instabilidade política, aos reflexos da pandemia e às incertezas internacionais”, diz.

Nesse cenário, o setor de serviços aparece como o mais vulnerável, liderando a estatística dos inadimplentes, respondendo por 52,8%, seguido pelo comércio (35%). Além de concentrar a maior parte das empresas brasileiras, é um segmento com menos reservas de capital. “Qualquer soluço na atividade ou inadimplência na base de clientes afeta diretamente o caixa dessas empresas”, avalia Tonioli.

Bueno segue a mesma linha, e reforça que os reflexos da pandemia, financiamentos longos, baixa atividade comercial e gestão deficiente são desafios adicionais. “Sem crédito e com consumo em queda, o impacto é imediato em setores como viagens, varejo de luxo e educação privada.”

Sinais de alerta

Apesar do aumento nas recuperações judiciais, nem toda empresa inadimplente precisa seguir esse caminho. “Trata-se de uma medida drástica, indicada apenas em situações extremas”, afirma Wilbert.

Antes disso, ele explica que é necessário avaliar a viabilidade do negócio. Se a empresa gera margem, mas está descompassada com suas obrigações, é possível renegociar com credores.

“Se os credores toparem alongar parcelas, não há necessidade de RJ. Ela é recomendada quando já não há espaço para negociação e o risco jurídico é iminente”, frisa o CEO e sócio-fundador da Safegold.

Além disso, saber o momento certo de agir é essencial. De acordo com Wilbert, a inadimplência raramente chega de surpresa, dando sinais nos negócios. “É importante monitorar indicadores como prazo médio de recebimento, projeção semanal de fluxo de caixa e margem operacional.”

Os especialistas ouvidos pelo InfoMoney ainda orientam que os empresários e empreendedores compreenderam a capacidade de geração de margens, que permita manter uma visão de caixa de médio prazo. Além disso, auditorias independentes, consultorias e profissionais capacitados podem ser decisivos na prevenção.

Cortar investimentos ou buscar crédito?

Não é incomum que, diante da crise, os empreendedores cortem investimentos e paralisem estratégias. Isso, porém, pode agravar a situação.

“Paralisar projetos estratégicos pode ser fatal, especialmente se a empresa já vinha tentando se reposicionar no mercado”, alerta Tonioli. A solução, segundo ele, é adequar os planos de curto prazo, priorizando ganhos de eficiência e manutenção do negócio.

Por outro lado, o ecossistema de crédito brasileiro tampouco favorece o empresariado. “O crédito no Brasil ainda não fala a língua do pequeno empreendedor, e o empreendedor não entende a língua do crédito”, resume Wilbert.

Na prática, os bancos priorizam garantias patrimoniais ao avaliar a concessão de crédito, deixando em segundo plano a real capacidade de geração de caixa e sustentabilidade do negócio. Isso dificulta ainda mais o acesso a recursos por parte de empresas que, apesar de operarem de forma eficiente, não possuem ativos suficientes para oferecer como garantia.

Bueno reforça que falta educação financeira na sociedade e mecanismos regulatórios mais eficazes. “O crédito precisa ser concedido com olhar apurado ao perfil do tomador e às garantias disponíveis, e isso exige conhecimento e estrutura.”